sábado, 31 de outubro de 2015

498 anos de Reforma Protestante: Igreja Reformada Sempre se Reformando...nunca inovando!

Estamos as vésperas dos 498 anos de Reforma Protestante (há quem a coloque no plural=reformas). 

Uma das premissas da Reforma foi "Igreja Reformada Sempre se Reformando". 

Isto significava duas coisas:
1ª) Por um lado, os principais reformadores (com exceção dos anabatistas) nunca entenderam que estavam criando uma nova religião, mas sim, apenas reformando a única religião cristã de todos os tempos desde os apóstolos. Em outras palavras, estavam tirando as arestas da igreja medieval no Ocidente (o que aliás, é bastante discutível até hoje, com que autoridade ousaram fazer e se é que de fato o fizeram).

Quem lê as Instituas de Calvino por exemplo, sabe que o mesmo, a semelhança dos demais reformadores, basearam sua interpretação da bíblia não apenas na exegese ou hermenêutica mas também nos escritos dos chamados pais da igreja. Calvino era do parecer que, a interpretação pós-apostólica da patrística que embora não fosse perfeita, todavia, por sua vez tinha lançado as bases da ortodoxia cristã teologicamente falando (trindade, cristologia, cânone, etc). Porém, a mesma tinha sofrido alterações ao longo dos séculos e se distanciado cada vez mais do ensino do Novo Testamento. Principalmente, a partir do século 12 após a ruptura com o Oriente (neste particular, Calvino culpava a Escolástica).

Assim, sendo, por "igreja reformada sempre se reformando" o grito da Reforma consistia em voltar sempre ao modelo de igreja da Bíblia Sagrada ou ao menos aos modelos das igrejas dos 3 primeiros séculos da Cristandade primitiva. Nesta linha se encontram ainda hoje denominações como o luteranismo e o anglicanismo;

2ª) Por "igreja reformada sempre se reformando", os reformadores não tinham a mínima pretensão de dar a igreja novos paradigmas extra-escriturísticos de acordo com a cultura, modismo ou demais conveniências e vaidades humanas...para eles "igreja reformada sempre se reformando" não significava reformar no sentido de inovar! Absolutamente não, não era esta a proposta. 

Hoje, após quase 500 anos de duras reformas religiosas (incluindo perseguições e martírios), muitíssimas igrejas oriundas direta ou indiretamente da Reforma Protestante estão no mesmo caminho da igreja católica medieval no que diz respeito a não ter a Bíblia Sagrada como fonte e regra única de fé e prática cristã. Por mais lamentável que seja, isso é um fato e contra fatos não há argumentos!

Quem conhece um pouco da história eclesiástica e secular sabe muito bem dos abusos naquela época da igreja estatal, da corrupção moral do clero, da ignorância e analfabetismo bíblico, da exploração da fé leiga por meio das vendas de indulgências e outras relíquias cristãs, do tribunal da santa inquisição, etc. Coisas essas pelas quais a ICAR através dos papas João Paulo II e Bento XVI chegou a reconhecer e pedir perdão por elas!

A maior parte do protestantismo atual representado pelas igrejas liberais, emergentes, pentecostais e neopentecostais dentre tantas outras bizarrices gospel, não tem deixado por menos com a venda de bênçãos, curas, prosperidade material e até terreno no céu como foi o caso da IURD. Até mesmo igrejas históricas como a luterana e anglicana tem ordenado pastoras que advogam que Deus não deve ser chamado de Ele e sim de Ela, e realizado casamentos de homossexuais. Igrejas como  Bola de Neve realizam batismos em toboágua, celebram a Santa Ceia com suco de maracujá e biscoito, e outras que promovem as piores atrocidades em nome de Cristo e do Espírito Santo como a unção do riso, da dieta, dente de ouro, cusparada santa e por ai vai. Uma verdadeira bagunça! Aonde vamos parar? O quê fazer daqui pra frente? Recuar ou avançar? Continuar reformando ou deformando?

Dado a todos estes escândalos (pra ficar barato), além da deficiência doutrinária, não são poucos os que de Norte a Sul, e de Leste a Oeste no Brasil e no mundo inteiro tem clamado por UMA NOVA REFORMA PROTESTANTE. O que diga-se de passagem, não é nada fácil. Talvez, muito mais difícil que no século 16. Tanto, que ramos do anglicanismo e luteranismo tem retornado a ICAR. Aliás, para a Igreja Católica Apostólica Romana o que houve não foi Reforma e sim Revolta. Segundo ela, os verdadeiros reformadores da igreja foram os santos como Francisco de Assis, Bernardo de Claraval, e os Jesuítas (dentre tantos outros de sua extensa galeria, cuja maioria foram canonizados). De acordo com o Vaticano e seus apologetas, a reforma protestante errou feio ao tentar corrigir dogmas milenares ao invés de comportamentos morais e éticos de seus fiéis e clérigos.

Confesso que a questão em si é bastante polêmica e complexa, afinal de contas, são 2000 anos de Cristianismo Global. Não me vejo na condição de apontar uma solução eficaz. Só posso dizer que não fui eu quem começou com todas estas brigas, facções e corrupções (meus pecados são outros) e tampouco, serei eu que acabarei com elas, estou apenas expondo fatos da forma mais imparcial e despreconceituosa possível. Porém, a uma conclusão tenho chegado em meio a toda esta Babel Religiosa, a saber, que vale a pena a nós que somos reformados (independente da ala) continuar lutando por mais reforma dentro de nossos círculos e até onde for possível, a luz de nossa tão rica herança reformada que tem como lema 5 bases: Sola Scriptura, Sola fide, Sola Gratia, Solus Christus e Sole Deo Gloria. Em outras palavras, ou continuamos reformando por meio de uma pregação bíblica e sólida dos nossos púlpitos ou nos tornaremos responsáveis pela deformação da igreja em sua forma visível ao assumir uma postura diferente de nossos ancestrais na fé (reformadores e puritanos), ao aceitar passivamente a corrupção generalizada da própria igreja protestante. É isto que queremos?

Fica então a dica: "Igreja Reformada Sempre se Reformando à luz da Bíblia e da história eclesiástica...nunca inovando (ou deformando)!". Amém

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa - AIECB)